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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Parto domiciliar

Quando você ouve falar em parto domiciliar, pensa numa casinha simples do interior com uma senhorinha agachada entre as pernas de uma mulher gritando "mais pano!" e "mais água quente!" e escutando o bebê com um objeto que parece um funilzinho? Bem, é uma realidade que ainda existe, e que eu acho bem bonita se compararmos com os partos violentos que acontecem todos os dias e que costumamos conceber como "normais". Mesmo os partos normais hoje em dia são tudo, menos normais. A mulher apavorada, muitas vezes desprovida da presença de seu acompanhante, morrendo de dor por medo e terror, médicos apressados e barulhentos, que não se preocupam com o lado emocional e psicológico de se dar à luz, instalando o horror de possibilidades remotas ameaçando a saúde da mulher e seu filho se ela não se submeter a procedimentos que ele alega serem essenciais e muitas vezes não são como cortes do períneo, infusões venosas, hormônios para acelerar o parto, procedimentos que tiram sua dignidade como lavagem intestinal, raspagem de pelos que incomodam muito depois, sem falar no jejum, nas luzes fortes, na posição horizontal sem ajuda da gravidade, de pernas amarradas nos estribos, de ter seu filho retirado de você e levado para sofrer outros tantos procedimentos antes mesmo de sentir direito o cheiro do seio da mãe, nos tornamos hospedeiras que cumpriram sua função, de onde o bebê deve ser removido e achamos isso "normal". Normal é estar tranquila, segura, poder andar, se alimentar, ficar na posição que achar mais confortável, dar tempo ao tempo para seu corpo trabalhar, e expulsar seu filho naturalmente para o mundo, com a força que seu corpo lhe obriga a fazer sozinho sem que ninguém precise gritar "faz força de cocô!" ou qualquer coisa semelhante, segurar seu filho nos braços depois de 9 meses de espera e amamentá-lo enquanto aguarda pacientemente sua placenta se apresentar inteira e íntegra anunciando que a nova fase da sua vida começou. Depois dessa, a imagem de uma mulher deitada em sua cama e uma senhorinha com o funilzinho, panos e água quente lhe ajudando não parece tão assustadora, não é? Pois pra mim parece ideal. Só que hoje em dia não é preciso parir no interior pra "voltar às origens", as parteiras urbanas crescem em número. Hoje elas são em sua maioria enfermeiras obstétricas, que unem seu estudo e técnicas à experiência passada de mãe pra filha há inúmeras gerações no interior pela tradição das parteiras e assim, ajudam muitas mães a terem um parto digno, em seus domicílios com toda segurança e tranquilidade, longe dos fantasmas intervencionistas. Mas não é tão fácil. O número de parteiras ainda é pequeno se comparado ao número de obstetras cesaristas mecanizados ou que se dizem vaginalistas, mas não concebem se desvencilhar de tantos procedimentos, posturas desumanas e condutas que cirurgicalizam  até mesmo o parto chamado normal. Em alguns municípios, elas nem existem. Em geral, parir em casa requer que a gravidez seja de baixo risco (bebê bem posicionado, mãe e bebê saudáveis) e conta com alguns equipamentos por segurança, mas que muito provavelmente não serão utilizados, salvo em necessidade real. Planos alternativos para o caso de intercorrências também são traçados previamente, um médico fica de sobreaviso, escolhe-se um hospital/maternidade para onde correr se necessário. E com tudo isso, as possibilidades de que tudo corra bem, aumentam, pois a mãe conta com uma equipe humana, que vai estar atenta às suas necessidades e tranquilizando-a. A doula desempenha um papel fundamental, ela é o "anjinho" que vai sussurrar no ouvido da mãe nos momentos em que a tensão dessa cultura de parto em que fomos criadas interfere. É ela que vai fazer massagens, colocar você na água morninha, sugerir posições confortáveis e estar presente o tempo todo te dando forças. É um personagem lindo e essencial no cenário do parto.

Estou muito feliz pois fiz contato com a Equipe Parto Ecológico e vou me encontrar com minha possível parteira em breve, a Heloísa Lessa!!! Nosso encontro era hoje, mas ela havia me avisado que tinha uma mãe quase parindo e o trabalho de parto realmente começou, tivemos que adiar. Mas foi por uma ótima causa, que corra tudo bem no parto dessa mamãe e bebê. Adicionei o link do site da equipe no blog, pois amei saber que esse tipo de equipe existe: http://equipepartoecologico.blogspot.com/ Espero muitos frutos desse contato! Quero parir em casa, tranquilamente, no meu ambiente, sem pressa, sem medo e receber meu bebê numa sala escurinha, com musiquinha boa, pessoas queridas por perto...


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