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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Trailer Renascimento do Parto

Não tenho palavras para expressar o orgulho que estou sentindo dessa equipe maravilhosa que acompanhou minha gravidez e parto poe esse trabalho lindo que está no forno. Trata-se de um longa metragem sobre a forma de se nascer na civilização nos dias de hoje e promete ser lindo e emocionante como tudo que nos leva de volta às nossas origens.

Heloisa Lessa foi minha parteira, Fernanda Macedo é minha ginecologista e foi minha obstetra e o Ricardo Chaves é nosso pediatra. Os demais são igualmente pessoas extraordinárias que dedicam suas vidas a mudar a forma de se nascer no mundo em prol do amor.

Assistam o trailer abaixo e aguardem o filme em março de 2012.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nascimento do Andrej - Um relato inacabado

Sinto que este relato ainda não acabou. A cada dia eu tenho mais um insight. No entanto me vem uma urgência de escrevê-lo como se colocando no papel me fosse ficar mais claro algum porquê ou como. Como se um desenho me fosse fazer visualizar algo que pode ser óbvio, mas a mim, será como um argumento que eu ainda não ouvi. Eu sinto um peso. Tenho momentos de intensa alegria, mas momentos em que parece que me perco numa profunda escuridão. Não sei se por como as coisas aconteceram, ou se pelo que aconteceu depois.
Não, eu não estou sofrendo por não ter parido, por não ter tido meu parto domiciliar ou mesmo natural, por não ter tido a vivência que meu corpo é capaz. Fico um pouco triste, sim. Mas também sinto que a jornada não foi em vão, eu sou uma pessoa diferente hoje pelo caminho que percorri na estrada da humanização. Não pretendo me afastar dele, pretendo levar essa boa nova a muitas ainda e um dia vivenciar o que sonhei pra mim e pro Andrej num novo nascimento, onde ele vai participar como meu companheiro. Talvez uma hora eu ainda vá chorar esta etapa.
Quando eu pensava na possibilidade de precisar de uma cesárea, pensava que esta seria a pior coisa que poderia acontecer. Por ora, eu estou imensamente agradecida pela minha cesárea, pois apesar dela ter me privado do parto, não me privou da maternidade, e isso, eu não fazia idéia do quanto era imenso. O parto ficou pequeno. Mas ainda assim eu me reservo o direito de chorar por ela uma hora, pois é fato que algo dentro de mim morreu, sim, naquela cirurgia.
Para quem queria um parto em casa, as coisas aconteceram totalmente ao inverso. Pra começar, eu tive uma gravidez linda, desejada, saudável. Mas sob um enorme estresse no trabalho. Sou gerente de qualidade de uma instituição de internação domiciliar e quando descobri a gravidez eu estava no meio da coordenação de um projeto grande de certificação chamado Acreditação, que é como um ISO da área da saúde. Foi um longo processo de mudanças tanto estruturais quanto cotidianas na empresa e tudo pelas minhas mãos. Ao me aproximar do oitavo mês de gestação, nos aproximávamos também de nossa primeira avaliação diagnóstica, onde todo nosso trabalho seria avaliado em 3 dias de visitas do órgão fiscalizador. Todo nosso trabalho de meses, ou seja, as nossas novas diretrizes, rotinas de trabalho, processos, protocolos precisavam estar descritos formalmente. Como coordenadora, me fugiu um pouco a noção de que meus líderes setoriais deixariam para última hora colocar tudo isso no papel e colher as devidas assinaturas de aprovação, para que eu homologasse, arquivasse e arrumasse na ordem que tinham de estar para que os avaliadores pudessem manusear, caso contrário, sem evidências, tudo que fizemos desde o começo seria em vão. Os dois últimos meses de gestação foram intensos, trabalhando sábados, domingos, até tarde, chorava muito, cansada, estressada, preocupada. Meu filho ficou em segundo plano, afinal, ele estava bem. E eu sofria muito por não estar curtindo mais minha barriga e minhas últimas semanas com ele dentro de mim. Fora isso, me tranqüilizava saber que eu lhe daria um parto digno e que tudo se encaminhava bem para isso.
Foi aí que na 34ª semana, exatamente no último dia das avaliações, eu tive muitas contrações e perda de tampão. Eram indolores, mas fui ver minha EO, a Helo, que achou meu colo muito centralizado, temeu um trabalho de parto prematuro e me colocou de molho em casa uma semana para fugir do estresse. Passou. Paralelamente ela me pediu uma ultra para nos certificarmos da posição dele. Estava difícil de sentir, ficamos com dúvidas. Na ultra, a sentença: pélvico. Começou meu desespero. Eu me desestruturei. Tanto estresse e só com isso eu fui me abalar. Pensava mil coisas ruins que eu nem conseguia verbalizar, que meu filho mexia pouco, que podia ter problemas neurológicos, que ele tinha raiva de mim, que eu causei isso a ele com meu estresse...  cheguei a ficar chateada com ele por fazer isso comigo... me abalei mesmo. Minha mãe veio me dar suporte, o que foi muito rico pois vi o quanto ela me apoiava nessa minha aventura a qual todos eram contra, menos meu marido. Ela me ajudou com as posturas, com o relaxamento, com a conversa com ele, com massagens, com som, calor e frio e eu vi que ela queria mesmo que eu tivesse o parto para o qual eu me preparei, que ela também acreditava nele...
No dia em que soube que ele estava sentado eu entrei no banho e chorei, chorei, chorei. Queria que a água levasse minha tristeza e preocupação. Eu via uma cesárea se anunciando e nada me consolava. Com a cabeça debaixo da água do chuveiro eu me senti numa caverna e vi uma mulher no meio de um lago lá no fundo da caverna. Eu ouvia latidos e uivos e logo reconheci que ela era uma Deusa chamada Hécate, que é a senhora dos portais e, portando, do nascimento. Ela me ofereceu da água do lago para beber e eu imediatamente aceitei, como se aceitando um convite para deixá-la me guiar nesse processo. Aquilo me acalmou. Mas internamente eu sabia que isso significava uma jornada. Certa vez escrevi sobre a descida ao submundo de Inanna, outra Deusa. Como mulher, já vivi essa “descida” em outras etapas da minha vida e sei como é difícil, mas no final todas retornamos como Rainhas. Para chegar ao fundo da caverna, no lugar mais profundo de nós mesmas, precisamos nos despir de nossas insígnias, de nossas máscaras, de nosso controle sobre nós mesmos, para atravessar o portal que temos que atravessar, seja qual for. E só então poder aprender a lição e voltar com o poder nas mãos. Esse poder nesse caso, era meu filho. Pra mim, foi claro que Hécate veio me convidar pra uma descida. E eu aceitei.
Mas enquanto eu trilhava meu caminho interno com meus medos e travas internas, a equipe viu algo na ultra que havia me passado batido diante da notícia dele estar sentado: a biometria dele estava atrasada. Lembro delas terem falado algo, mas eu pensei “ele é pequeno mesmo, e daí? Eu também sou. É até melhor.” Nem liguei. Mais uma semana de exercícios, acupuntura, conversas e mais uma ultra: ele ainda estava sentado. E, silenciosamente, sem crescer o quanto era esperado. Mais uma vez a equipe ficou alerta, mas não era hora, ele ainda estava bem. Eu, ainda ignorava os riscos disso. Me concentrando na parte dele estar pélvico, me enchi de força, aproveitei que minha mãe voltaria para sua cidade uns dias, programei um intensivo com meu filho e lá fomos nós sozinhos pro parque, pra praia e eu tive longas conversas com ele sobre mim, meus medos, minhas expectativas e sentimentos em relação a ele, meditei muito, respirei muito com ele, chorei muito, descobri muita coisa sobre mim e sobre ele. Os exercícios foram deixando de ser uma obrigação e foram virando o melhor momento do dia, pois era o momento em que eu sentia e vivenciava meu filho, que eu ia o conhecendo. Foi aí que magicamente eu percebi que havia parado de me preocupar com a posição dele e com a possibilidade de ele ter problemas e comecei a ver diferente: ele tinha ficado negligenciado um tempão e reivindicou a mãe do jeito dele. E conseguiu! A esta altura eu estava totalmente entregue a ele, vivendo pra ele, já fora do trabalho, sem estresse, ele era GENIAL! Que orgulho passei a sentir dele, o amor que eu tinha por ele foi tomando forma. Antes era só expectativa, possibilidade, e naquele momento já havia consistência, tamanho, formato. Nada me tirava a sensação de que não havia mais nada que o impedisse de virar e de termos nosso parto tão sonhado, eu estava confiante. No dia em que completamos 37 semanas eu tinha consulta na GO, a Fernanda, com quem eu fiz o pré-natal junto com a Helo, sempre todos se falando. Fui feliz e radiante, sabendo que ele já poderia ter virado, estava mesmo sentindo ele diferente. Na consulta, ouvi da médica que o fato dele estar pélvico não inviabilizaria meu parto natural, que tudo ia depender dele e de mim e das circunstâncias. Fiquei mais feliz ainda! Mas na hora de auscultar ele, os batimentos estavam leeentos... nem achei que fosse ele. E dali foi aumentando o ritmo e ficando rapidinho. Eu sem entender, perguntei se isso era normal. A Dra. Fernanda disse que poderia ter dado uma descompensada, que eu estava de barriga pra cima, pra evitar essa posição. Auscultamos mais algumas vezes e tudo normal. Minha pressão deitada de barriga pra cima deu 15 por 10, de lado, voltou para 10 por 6. Também verificamos isso algumas vezes e em todas minha pressão subia muito deitada de barriga pra cima. A Dra. Fernanda pediu que eu fosse fazer uma ultra naquele mesmo dia. Perguntei se eu podia almoçar antes e ela disse que sim, mas que ligasse pra ela da emergência da Perinatal para dar notícias. Indo pra casa almoçar, eu fiz minha mãe errar o caminho de casa e ir em direção à Perinatal que é bem perto da minha casa, então ouvimos o acaso e fomos direto pra lá. Fomos atendidos de pronto, o que foi estranho. E na ultra, a médica viu uma centralização severa, que é o que acontece quando seus pequeninos órgãos recebem pouco oxigênio da placenta pelo cordão, fazendo a circulação prevalecer nos órgãos mais importantes, que são o cérebro e o coração. Ele não havia mais crescido, meu líquido amniótico estava diminuído... não havia outra escolha senão interromper a gestação. O Andrej precisava nascer.
A notícia me acertou como um golpe no estômago. Eu ainda não havia me atentado para a seriedade da restrição de crescimento, sua ligação com centralização ou com sofrimento fetal, mas a verdade é que meu filho estava em sofrimento e tinha que sair da minha barriga dali pouco tempo, pra onde pudessem fazer algo por ele.
A partir daí são flashes que eu tenho de memória até a hora em que ele foi colocado no meu peito. Eu fui pra casa, fiz nossas malas correndo sem conseguir pensar nem que dia era nem o que eu usaria, nem se as roupas dele caberiam, já que era um bebê com peso estimado de menos de 2kg. Me internei menos de 2h depois. A Helo veio pra minha casa e me acompanhou até lá com meu marido e minha mãe. O suporte emocional dela foi muito importante tanto para mim quanto para meu marido, pois a gente não só estava tendo nosso sonho do parto interrompido, como nosso bebê corria perigo. Lá encontrei a Dra. Fernanda que já havia feito minha pré-internaçao pra agilizar e já estava com toda sua equipe pronta. Fui internada, fui prum quarto, recebi a anestesista, assinei o consentimento, tiveram de chamar dois supervisores prediais com alicates pra tentar tirar um piercing de septo nasal que eu tenho e não saía (que foi uma parte até engraçada), eu coloquei aquele avental de bunda de fora, deitei numa maca e fui levada pro centro cirúrgico, onde meu marido foi trocar de roupa e eu fiquei só, com meus pensamentos, enquanto um técnico de enfermagem tentava colher umas informações de mim, me colocava uma pulseira e me mostrava meu nome na pulseira do meu filho. Eu olhava aquilo meio fora de órbita. Eu estava morrendo de medo, tremia, estava em pânico. A Helo chegou e afugentou o cara e então começou a me dizer coisas doces e que fizeram toda diferença. Ela me disse que os olhos dela seriam minha âncora e me transmitiriam segurança e que eu olhasse sempre pra ela quando precisasse dessa segurança. A equipe rapidamente chegou e eu fui pra sala de cirurgia na maca. Lá me prepararam e a Helo ia me dizendo o que seria feito, a equipe se apresentou a mim. Dra. Fernanda brigou para que o ar e a luz fossem diminuídos e um papo de viagem que começou a surgir entre a equipe foi logo cortado silenciosamente, provavelmente pela Dra. Fernanda. Chegava a hora da anestesia. Essa foi uma hora particularmente difícil pra mim, pois era minha hora de me entregar. Eu resisti. Algumas insígnias a esta altura já haviam sido arrancadas de mim: meu sonho de parto, meu trabalho de parto, a segurança do meu filho, minhas roupas, meus piercings. Agora era hora de eu me entregar ao inevitável. A anestesia que dão para que você não sinta a agulha que entra na sua coluna, eu não a sentia fazer efeito, sentia as agulhadas nos ossos, chorava muito. Foi sofrido. Assim que pegou, me anestesiaram e eu fiquei falando que tava sentindo tudo, tava sentindo mexerem em mim, sentia minhas pernas, achava que tava mexendo o pé. Era medo. Uma hora eu senti o cheiro do bisturi queimando minha carne e relaxei. Então eu voltei minha atenção para a Helo novamente, tentava respirar profundamente, mas tinha um peso imenso no peito. E de repente abaixaram a cortina e ele surgiu, roxo, imóvel, com as perninhas esticadas diante do rosto. Ele foi colocado por frações de segundo perto do meu rosto e novamente levado para reanimação. O tempo parece que parou ali. Eu repetia “chora pra mim, meu filho! Quero ouvir ele chorar! Chora pra mim, Andrej!” Pedi ao meu marido que fosse com ele pois ele estava com pessoas que ele não conhecia, mas meu marido não conseguiu. Então a Helo se ofereceu para ir e eu pedi que fosse. De lá ela dizia que estava tudo bem, mas eu não acreditava. Então ele chorou. Acho que ali eu respirei pela primeira vez. Não pensava mais em cirurgia, em estar aberta, em parto, meu filho chorou! Ele foi novamente colocado no meu peito, dessa vez rosado e chorando e parou de chorar quando nos encostamos. Quem o recebia era uma nova pessoa, eu não era mais a mesma de quando ele foi levado. Ali, eu me tornei mãe, quando eu o vi roxo e imóvel, quando finalmente eu entendi que se não estivesse ali, poderia não ser mãe, quando eu abdiquei do meu apoio, para que meu filho tivesse suporte, quando eu agradeci pela cesárea existir, eu me tornei mãe. Eu cortei seu cordão, claro que ele já havia sido cortado, eu só cortei a parte excedente, num gesto bem simbólico. Eu queria ser a pessoa que cortasse nossa ligação simbiótica, a mesma que em diversas etapas, de diversas formas, vai ter de deixá-lo ir para o mundo.
Algumas experiências são impossíveis de você tomar consciência do que está acontecendo com você enquanto as vive. Não havia como eu saber o que acontecia comigo internamente enquanto meu filho saía de mim. Agora, olhando de fora, acredito que eu, que queria ser o mar para que meu filho navegasse através de mim para o mundo, estava na verdade, num barquinho, remando heroicamente rumo ao meu parto, orgulhosa do quanto havia percorrido, quando de repente, os remos desapareceram. Eu estava totalmente à deriva, à mercê do mar tecnológico que me banhava, sem poder fazer nada senão olhar a paisagem e confiar na correnteza, que neste caso, era a equipe mais perfeita que eu podia ter escolhido, que soube esperar o tempo do Andrej serenamente até que não pudéssemos mais e ele pudesse ser nascido, mas ainda respirar sozinho. Minha mãe havia me falado dessa metáfora. O mar foi turbulento, mas no final o barquinho rumou para um canto ensolarado, em águas claras e perto de margens floridas e verdes e, mesmo sem remos, eu pude apreciar a viagem com meu filho nos braços.
Uma vez li um relato de parto de uma estrangeira muito bonito, poético, onde ela traçava uma metáfora de seu trabalho de parto como se fosse uma jornada onde ela tivesse ido pro lugar mais profundo de sua alma, lutado com uma tribo de ursos e retornado com sua filha nos braços. Eu hoje sei o que é isso. Mesmo sem trabalho de parto, o nascimento do meu filho foi uma jornada profunda, cheia de lutas e batalhas, principalmente comigo mesma e eu venci e voltava com meu filho nos braços.
Penso, se esta fosse toda a história, se eu me sentiria diferente, ou se a carga emocional dessa passagem atribulada se propagaria mesmo assim para que eu me sentisse como agora. A verdade é que a história não acaba aí. Andrej nasceu um bebê de 41cm e 2.170g. Era um serzinho minúsculo, com perninhas de sapo, o que o fazia ficar ainda menor. Sua placenta pesava menos de 200g e seu cordão era curto demais. Nem se ele quisesse, ele iria virar. Quisemos colher células-tronco mas o laboratório não conseguiu colher nem a metade da quantidade de células viáveis necessárias. No entanto, meu amor por ele foi imenso logo de cara. Apesar do tamanho e das circunstâncias e de ter precisado ficar na incubadora por uma hora para se aquecer, ele logo depois veio pro quarto e, a pedido da pediatra, as enfermeiras vinham nos auxiliar com amamentação a cada 2h. Ele precisava pegar peso, eu queria amamentar, ele precisava do meu leite. Eu tinha muito leite, o que foi surpreendente. Mas ele teve dificuldade para sugar. Tentamos insistentemente, até que começaram com os testes de glicemia a cada 3h. De 3 em 3h furavam meu filho no pé e isso era uma pressão imensa para mim. Eu dormia mal, pouco, queria trocar fraldas, dormir com ele e estava com dor. Chegava à conclusão de que mães que preferem cesáreas não pretendem cuidar dos seus filhos como eu queria cuidar, pois foi muito difícil pra mim. Eu queria que ele mamasse. Ele sugava no dedo, mas não na mama. As enfermeiras espremiam meu colostro na boca dele, me apertavam e eu desesperada, deixava. Na segunda noite quando eu ainda não havia conseguido que ele mamasse direito, uma enfermeira me disse que ele estava há muito tempo sem se alimentar, que isso era preocupante, que talvez fosse melhor dar só um pouquinho do complemento. Eu disse que não, que ela ligasse pra pediatra que ela iria lhe informar que não era pra dar. Ela me liga do berçário e diz que a médica havia pedido que desse 10ml do complemento só para que ele não ficasse sem comer. Eu cedi. Quando ele voltou, ele vomitou tudo em mim. No dia seguinte a pediatra me falou que ninguém havia ligado para ela. Ali eu comecei a oferecer a mama em horários que as enfermeiras não estavam, quando elas vinham eu dizia que ele já havia mamado. Os testes de glicemia continuavam, e os resultados bons eram minha segurança. Com a orientação da Helo, apelei para o bico de silicone e ele mamou. Melhor que ele mamasse assim do que tomar complemento. A glicemia dele deu um salto. Foi nossa segunda vitória.
Começamos a esperar para termos alta. Mas no segundo dia, veio nossa terceira batalha. A pediatra pediu diversos exames alegando que desconfiava de uma síndrome genética. Ela não conversou comigo, falou rapidamente com meu marido que quis me poupar. Acordei de um descanso com uma enfermeira vindo levar meu filho. Foi uma confusão pois eu não sabia de nada. E foi assim que eu fiquei sabendo que a pediatra achava que meu filho tinha a cabeça num formato estranho, os olhos puxados demais, o quadril estreito associado à restrição de crescimento e à placenta, ele devia ter uma síndrome grave. Ela desconfiava de uma cardiopatia severa, má formação. Ele fez USG de fontanela e abdome, eletrocardiograma e foram dois dias intensos e estressantes de exames e espera de seus resultados. Ao final, tudo normal. Nossa, que alívio. Mais uma vitória. Quando relaxamos, tivemos alta, a pediatra veio nos dar orientações. Entre elas, a de encaminhamento para um geneticista, pois ela ainda suspeitava de algo. E assim estamos desde então, aguardando a consulta, que foi hoje.
Acredito que tivemos mais uma vitória. O geneticista avaliou o Andrej e disse descartar qualquer síndrome que ela pudesse desconfiar. Pediu um cariótipo para confirmar a avaliação clínica e um exame de fundo de olho e cristalino por um pediatra oftalmo por precaução. Disse que isso é tudo que podemos avaliar por enquanto, que deveríamos voltar quando ele tiver entre 3 e 6 meses, quando já vai estar interagindo. Até lá é dar tiro no escuro. Que o fato do tamanho dele ser pequeno pra idade gestacional e da restrição de crescimento podem sugerir algumas doenças, mas que até agora não há motivo para achar nada, que precisamos ver como ele se desenvolve para termos alguma suspeita mais concreta. Esperava ouvir um “seu filho é totalmente normal, pode ir sossegada”, mas acho que isso já bastou. Eu olho para ele e o acho tão perfeito... Ele é pequeno, mas e daí? Eu também sou.
Queria ter uma história de parto linda pra contar. De fato, tiveram momentos sublimes, lindos, como a primeira música que ouvi com ele e que dançamos juntos. Esse amor enorme, mas de certa forma sofrido, pois eu não consegui relaxar desde que ele nasceu. Agora eu acho que não consigo deixar de me preocupar, de temer por ele. É uma sensação muito ruim. Quero curtir esse amor plenamente, mas parece que tem sempre algo espreitando, assombrando. Eu temo tanto, altero momentos de extrema felicidade com outros dias de pura tristeza e preocupação. Creio que o nosso nascimento me marcou muito. E a meu filho, através de mim. Tenho dificuldades de ver o vídeo que meu marido fez com as fotos do parto, me emociono, mas de uma forma que evito. Sinto um calafrio quando olho pro desktop do note dele, onde tem uma foto do Andrej saindo de mim. Tem dias que temo tanto por ele que queria colocá-lo de novo dentro de mim, de viver por ele. Tem horas que olho pra ele e o amor que sinto por ele dói. Não sei explicar. Uns diriam que isso é pós-parto. Eu diria que é um pós-não-parto seguido de muita, muita angústia e preocupação. Mas que fazem de mim uma mãe que quer muito muito muito bem ao seu filho e daria a vida por ele.
Não quis compartilhar isso tudo com toda a família, até porque a parte que não compete à saúde dele e só compete ao meu emocional não será de todo compreendida e, na verdade, o que eu sinto é uma mistura disso tudo junto. E eu recebi tanta gente, todos os dias, tanta visita, que acho que não tive muito tempo pra absorver tudo.
Eu precisava escrever. Sei que é cedo, que eu ainda estou muito mexida, que talvez isso não tenha acabado, que talvez eu ainda não tenha retornado da descida à superfície. Mas uma hora eu retornarei e uma coisa é certa: eu já trago meu filho nos braços.


Agradeço à equipe linda e sintonizada que tive, Helo e Fernanda, vocês foram muito mais que uma equipe, foram amigas, guias, portos seguros. Helo, um dia você ainda vai presenciar um parto meu, parido, sonhado e desejado, obrigada por suas palavras doces e asserivas. Elas fizeram toda a diferença. Fernanda, obrigada por sua alegria de viver, sua segurança e respeito pelas minhas escolhas, mas mesmo assim, por agir na hora que precisou.

Agradeço à minha mãe pelo carinho e dedicação de abdicar de sua vida e suas coisas, seu marido para vir me auxiliar nessa fase da minha vida. Obrigada pela eperiência que você tem me passado tão respeitosamente, me deixando espaço para errar e acertar. De toda sua ajuda, o que mais me tem feito bem é a proximidade de você, suas histórias e seu jeito doce de cuidar que eu também quero ter. Eu amo você.

Agradeço, mais do que tudo, ao meu marido amado, que me apoiou do início ao fim, abrindo espaço para minhas doideiras e irreverências e entendendo minhas razões. você adotou meus ideais como se fossem seus e caminhamos juntos até o fim, como deve ser, como juramos em nossos votos. Cada dia eu te amo mais, por você ser o homem que é, o marido que é, o companheiro que é e o pai que é. Amo, amo, amo...

Eis o vídeo do parto:

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Chá de bebê do ANDREJ!!!!



Gente, é chegada a hora de começar a despedida dessa barriga gostosa e grande...

Antes de mais nada, gostaria de dizer que o Chá é sempre uma ajuda nos gastos "menores", mas que somados, são um "gastão". Só que nossa maior intenção nesse dia será mesmo juntar os amigos mais chegados e a família em volta da barriga, principalmente os distantes, pois depois daqui a um pouquinho eu vou me recolher no meu casulinho e me transformar numa MÃE. E isso merece uma despedida, uma comemoração.

A intenção desse post é de dar algumas opções do que ainda não adquirimos para que quem quiser, poder contribuir com a chegada do Andrej. Algumas considerações:

- Nós optamos por uma paternagem mais ecológica e portanto NÃO VAMOS USAR FRALDAS DESCARTÁVEIS. Nossas fraldas serão de pano. Sabemos que dá mais trabalho, mas é um esforço que faremos para o meio-ambiente, não usando as fraldas descartáveis que demoram mais de 500 anos para se decompor (além de ter várias substâncias químicas irritáveis para o bebê). Elas são modernas, práticas, anatômicas e vão na máquina e optamos por modelos que são ajustáveis e crescem com o bebê.

- O quartinho do Andrej será do Pequeno Príncipe em tons de verde, azul e amarelo. Estamos optanto por não comprar coisas bordadas, com aplicações de bichos, bolas, aviões, etc. Estampas serão bem vindas, mas de preferência delicadas e discretas como xadrez, listras, bolas...

- Ganhamos muitos sapatinhos! Acho que o Andrej não vai usar tantos...

A LISTA!

- Conjunto de coador e funil;
- Panelinha esmaltada; (Marise)
- Escova de mamadeira;
- Colher de cozinha;
- Kit de porta algodão, gaze, cotonete;
- Garrafa térmica branquinha;
- Lixeirinha infantil branquinha;
- Bico de silicone para amamentação;
- Conchas para amamentação;
- Protetor de seio (de preferência de tecido);
- Bomba Tira-leite;
- Algodão em bolinhas;
- Lenços umedecidos;
- Cotonetes;
- Alcool 70;
- Limpador de gengiva (são umas luvinhas de pano, que vc esfrega na gengiva do bebe);
- Sabão líquido de coco;
- Balde transparente; (Vó Maria)
- Cueiros;
- Fraldas de boca brancas;
- Toalhas-fralda brancas;
- Toalhas de banho;
- Jogo de lençóis (de malha de algodão);
- Lençõis avulsos com elástico (de malha de algodão); (Ana Lucia)
- Toalha e lençol;  (Marise)
- Cobertor de termocel;
- Capa para bebê-conforto;
- Capa para carrinho (tem umas lindas de caveirinhas na Rock Baby);
- Bebêchila (mochila para coisas do bebê, tipo bolsa de maternidade) modelo Térmica ou Promenade no site Bebêchila; (Igor e Alessandra)
- Sling Santo Sako M ou G (pra mim e pro pai) no site Santo Sako (Paulo)
- Sling Wrap do site Fralda Madrinha
- Fraldas de pano dos seguintes sites:  Fralda Bonita (modelo Plus) (Thais) ; BB Natural (Fuzzi Bunz Tamanho Perfeito); Mamãe NaturezaFralda Madrinha;
- Bodys manga longa;
- Bodys manga curta; (Lucas e Thais)
- Mijão;
- Banho de sol;
- Macacão; (Vó Maria)
- Luvinha;
- Óleo de Calêndula Bebê da Weleda (tem no Mundo Verde)
- Sabonete Líquido Bebê Lavanda da Granado; (Oannes)
- Shampoo Bebê Lavanda da Granado; (Oannes)
- Condicionador Bebê Lavanda da Granado; (Oannes)
- Nebulizador;
- Protetor para quinas;
- Protetor de portas;
- Mordedor;


OBS: Me liguem para que eu informe se alguém já comprou o ítem que você escolher dar.

sábado, 9 de julho de 2011

Documentário sobre parto humanizado

Eu apoiei o documentário HANAMI, o Florescer da Vida, que fala sobre o parto ativo, a maternidade consciente e o que isso significa na formação de seres humanos mais conscientes. Eu contribuí com uma pequena quantia para que o projeto alcance o mundo todo. Se até 19 de julho a meta do projeto for alcançada, eles vão conseguir distribuir mundialmente esse filme, feito no brasil e legendado em diversas línguas! Contribuindo para que mais mulheres e famílias tenham acesso a conhecimento sobre humanização do parto e assim possam escolher com firmeza e delicadeza como dar vida ao seu filho!

Sabe como fiz isso? Você já ouviu falar em crowdfunding? É uma ideia bem legal, onde um projeto bacana pode ser produzido através de micro-patrocínios. Ao invés de correr atrás de uma única pessoa ou de uma única grande empresa para apoiar seu projeto, eles colocam a ideia na REDE e quem gostar pode ajudar com quanto quiser/puder e como agradecimento escolhe um presente, de acordo com sua contribuição! O meu foi um link para assistir ao documentário, com direito a capa e tudo para reproduzir em casa. Tem sites bem legais disso, como o MULTIDÃO e o CATARSE, onde estão hospedados o crowdfunding do projeto! Foi por lá que eu ajudei.
  
Entre aqui no site, e assista o vídeo lindo que a Priscila Guedes (diretora do documentário) fez para diculgar o projeto e se desejar, ajude como puder: contribuindo ou divulgando. O link é esse:

 http://multidao.art.br/pt/projects/119-hanami-o-florescer-da-vida

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Mãe de muitos

Gente, que coisa már linda!


Curta de animação em homenagem à obstetrícia, ganhador do prêmio Bafta (UK) de melhor curta de animação de 2010. Dirigido por Emma Lazenby, filha de parteira.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nós 6, às 29 semanas de gestação do Andrej/Mindu

Essa é nossa família:



Calmaí, a Mia fugiu!



Espera! Vai disparar, corre! Não deu...



Bonitinha, mas quase que não sai a cabeça do Vido!



Ih, faltou a Lumen, que fugiu no último minuto!



Bem, depois de muito custo, taí: Mia, Kim, Mingo, Ana, Lumen e Andrej, nós 6! Em nossa primeira foto de família.

Andrej é das mulheres da Intensive Care!

Gente, olha que fofo o carinho das meninas do trabalho! Eu fiquei tão feliz com essa surpresinha... Obrigada, gente. com certeza o Andrej já vai chegar conhecendo cada uma de vcs!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sorteio de coletor menstrual Miss Cup!


Pessoas, quem é antenado em ecologia e coisinhas femininas já sabe o que é um coletor menstrual. A Miss Cup faz o coletor menstrual Brazuca de melhor qualidade. 

O Miss Cup é uma alternativa super econômica/ecológica/confortável/limpinha de passar seus dias de menstruação. Se trata de um copinho macio 100% feito de silicone medicinal, sem corantes nem branqueadores que encaixa corpo da mulher perfeitamente e coleta o sangue. Você só retira, lava com intervalos de até 12 horas (a quatidade de tempo vai depender do seu tipo de fluxo) e reutiliza!

Bem, o fato é que o Blog da Paloma Peripécias de Cecília e Fofices da Clarice está sorteando um!!! YAY!!

Acesse o link do sorteio AQUI e participe também, eu to dentro já (mesmo faltando uns bons meses pra eu menstruar de novo...)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

De mitos e partos

"Estive pensando em quanto a gente anda para desejar "só" isso", disse Jobis Estevão, mãe, fêmea e mamífera. Rainha.
Veio-me uma imagem das mulheres que nunca pensaram em filhos e, portanto, nunca imaginaram como seriam seus partos. Elas já nascem predestinadas a "quererem" uma cirurgia, intenvenções, tecnologia, medicamento... LEmbrei-me de como é não saber, ignorar. Como é delegar poder a uma cultura, me submeter sem nem ter consciência disso. Lembrei-me como eu era. Lembrei-me o quanto eu li, vi, ouvi, aprendi, me surpreendi até aqui. E ficou ecoando na minha cabeça todas as coisas que a gente vai jogando pra fora e dizendo com sofrimento: "isso eu não quero", "isso eu não preciso", "isso é um absurdo", "isso jamais"... e com o mesmo sofrimento vamos lutando para conseguir adentrar as cavernas profundas de nosso ser e buscar lá no mais abissal interior a fêmea mamífera que é capaz de parir, mesmo contra a correnteza.
Lembrei-me de Inanna. Me lembrei de Ereshkigal. Ambas Deusas sumérias muito antigas. Lembrei-me do mito da descida da Deusa, que me ensinou uma lição que continuo a aprender cada vez que o revisito. Elas eram irmãs, duas metades, contrapartes, uma só. Ereshkigal representava o aspecto do feminino que foi relegado ao profundo submundo pelo patriarcado. Conta a lenda que ela foi inúmeras vezes estuprada por seu marido, Enlil, e cada vez ele usava um disfarce diferente. Os demais Deuses então o expulsaram da terra e ele foi residir no Submundo. Ela, grávida, o segue até seus domínios, como a cumprir seu triste destino. Ela passa a reinar no Submundo, enquanto gesta solitariamente. Inanna por sua vez não tem essas características. Inanna é jovial, alegre, livre, mas a Deusa dos Céus ama sua irmã e por isso, dolorida de saudade,  parte atrás dela em direção ao submundo. Então começa uma jornada muito difícil. Inanna, Deusa, Rainha, atravessa sete portais, e em cada um deles ela precisa de despir de uma insígnia. Tudo vai ficando para trás, suas jóias, suas roupas, sua coroa, suas sandálias, seus adornos... até que atravessa o último portal nua, como todos ao morrer, como igual. Desprovida daquilo que a identifica como majestade, ela se vê diante de Ereshkigal, a quem encontra em profundo estado de amargura, culpa, dor e desgosto, prestes a parir, sentindo as dores do parto. O olhar de Ereshkigal é o olhar da morte. Nada do que Inanna aprendeu em vida serve ali, diante da morte, nada lhe resta senão se render. Ela então recebe a fúria de sua irmã. Ereshkigal lhe lança toda sua ira, lhe chicoteia o corpo e lhe fere a carne com toda sua raiva de mulher sofrida, isolada, presa, tolhida, subjugada, invejosa. Tudo o que resta de Inanna é seu corpo nu, ferido e pendurado em um gancho como um pedaço de carne inerte. Ereshkigal então olha o corpo de sua irmã sem vida e pensa que esse foi o preço que ela escolheu pagar por seu amor e devoção a ela. A si. E é então que o aspecto escuro do feminino toma consciência da validade de sua experiência de dor. Ao honrar o sofrimento e validar essa experiência, ela transforma a destruição em generosidade e Inanna novamente vive. Ereshkigal finalmente pariu. Pariu uma nova Inanna, pariu a si mesma.
Inanna na verdade desce ao submundo atrás de sua linhagem, sua herança, sua origem. Ela desce para as profundezas de si mesma, para encontrar suas partes exiladas, recuperá-las e integrá-las na totalidade do que é. E quando ela retorna, ela não mais precisa destas insígnias.  E ela o fará quantas vezes for necessário.

Lembrei-me. Eu estou descendo. É solitária a descida. É escuro. Sinto medo. Minhas insígnias vão ficando para trás...
Mas eu vou parir.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Apoiamos as parteiras!


Nós apoiamos a causa, mesmo que à distância!

Marido/pai babão


Não sei quem ama mais esse beijo delicinha, Mindu ou eu...

Barriga coletiva

Eu estou um pouco distante das pessoas, sabe? Tem dias que eu quero ver gente, mas as pessoas também parecem mais distantes. Acho que grávidas não são muito "party animals"... então não devem ser pessoas muito legais de se chamar pra balada, né? Esse sábado fui num show de metal progressivo com meu irmão de uma banda que a gente ama, e foi foda, eu adorei ter visto a banda. Eles são suecos e acho que não vão vir aqui nunca mais... ou por um bom tempo... Foi uma oportunidade e eu peguei e fui, mas no meio eu me senti tão culpada... o som estava MUITO alto (e estava mesmo, não fui eu a grávida fresca, tava distorcido até, ruim mesmo) e eu tive que tirar o casaco pra colocar sobre a barriga pra abafar o som. Ridículo, né? Mas eu curti.

Aí, grávida se sente muito sozinha... Parece que ninguém consegue saber o que está se passando com você. O rebuliço emocional e o de dentro da sua barriga... É um processo tão solitário que não há como compartilhar com ninguém mais. Por mais que você fale e conte. Você (e só você) já tem uma relação com esse serzinho, você sabe quando ele está dando chute porque você tá com a bexiga cheia ou come demais e tem pouco espaço, ele remexe quando você come doce, ele chuta se você coça a barriga, ele faz você mudar de posição à noite se o incomoda... Dá medo, dá ansiedade, dá uma felicidade absurda que não cabe em você quando você pensa que essa coisinha que você já entende vai sair daí de dentro e você vai ver seus traços nele, vai alimentá-lo com seu corpo, vai ensina-lo seus valores... É uma loucura o quão solitário é esse processo... não importa o quanto as pessoas te papariquem ou quanto seu marido sussurre segredos para o filho dele ou esprema o ouvido na sua barriga tentando ouvi-lo, só você está sentindo aquilo.

Mas aí tem umas coisas muito fodas. Domingo fui à Petrópolis e minha família por parte de mãe estava toda lá. Era a aniversário de 80 anos da minha vózinha Vivi. O dia era dela e tava sendo uma delícia, mas uma hora, depois do parabéns, todo mundo colocou uma bola de encher na barriga, ficaram em volta de mim e tiraram uma foto coletiva, todo mundo de barrigão e eu lá no meio. Minha mãe virou pra mim e disse "viu? você não está só". Nem sei se ela sabe o quanto isso foi especial pra mim... Foi o máximo.




sexta-feira, 3 de junho de 2011

A polêmica da amamentação em público

Por Ana Paula Vasconcelos:

"A manifestação pública entilulada Mamaço, que ocorreu na Quinta-feira 12 de Maio, despertou a discussão de um tema que ainda é considerado tabu na nossa sociedade: a amamentação em locais públicos.O protesto, que reuniu cerca de 50 mulheres no Espaço Itaú Cultural, foi uma ação para defender a amamentação em locais públicos após a antropóloga Marina Barão ter sido impedida de amamentar no local.

Antes e após a manifestação, diversas opiniões, críticas e chacotas foram feitas em contraposição à atitude destas mães. A exemplo o CQC 3.0, onde o Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Luque ridicularizaram o evento quando uma inocente e desavisada enviou-lhes um e-mail pedindo que divulgassem a ação (veja o vídeo). Uma mulher revoltada pela atitude machista de alguns, apesar de não ser mãe , publicou um post em seu Blog Escreva Lola Escreva que, talvez até por ser de certa forma radical e generalizar os homens (pois houve mais crítica aos homens em geral que defesa da mulher), também gerou muita polêmica, já tendo desde a sua publicação (ontem, dia 01 de Junho) até o momento, colecionado mais de 430 comentários.


Já no texto "Mamonas Celestinas" de João Pereira Coutinho, colunista da Folha, o autor utilizou de sarcasmo e ironia para defender a idéia de que o argumento de que a amamentação é algo natural e fisiológico não é suficiente para defendê-la em locais públicos, e muitos compactuam desta idéia. Devo dizer, inclusive, que concordo que este não é argumento suficiente, se não deveria ser natural muitas outras coisas também, mas não vamos entrar neste mérito.


Acontece que uns se ofenderam com a atitude das mães e saíram falando muita coisa, e as mães e mulheres em geral se ofenderam com o que foi dito, virou um bafafá, bate boca, onde os argumentos se limitaram à "naturalidade do ato" por parte das mães e ao "constrangimento" por parte dos demais. Sinceramente, ainda não entendi o porquê de tanto constrangimento.. É porque é peito? ou por quenão conseguem controlar a atração? Ou mais, talvez seja por se sentir envergonhado ao ver um inocente bebê sugando voluptuosamente parte do corpo feminino que os homens adoram?

O objetivo do post de hoje é justamente colocar os reais motivos de mães necessitarem amamentar seus filhos a hora que for, no local onde estiverem, e argumentar de forma mais concisa.

Bom, em primeiro lugar, vamos abordar o fator psicossocial:

A amamentação no seio materno, em livre demanda (ou seja, a hora que o bebê pedir), auxilia no desenvolvimento social e psicomotor da criança: As pesquisas mostram que os bebês amamentados ao seio são mais inteligentes, tem melhor aprendizado no futuro. o contato físico entre o bebê e a mãe facilita o relacionamento futuro desta criança com as outras pessoas e faz com que se tornem adultos mais confiantes, influenciando decisivamente em sua futura maneira de ser, de viver e de se relacionar com outras pessoas, pois assegura interação freqüente e expõe o bebê à linguagem, ao comportamento social positivo e a estímulos importantes e, finalmente, desenvolve maior agudeza e enfoque visual levando à melhor disposição à aprendizagem e à leitura. 

Além disso, o bebê passou 9 meses dentro da barriga da mãe, acolhido e protegido, escutando 24h por dia o bater do coração da mãe, em um local escurinho e quentinho. Quando nasce, tudo isso lhe é tirado de uma vez, o que gera medo e insegurança no bebê. Certas vezes, quando o bebê pede o seio da mãe, não é fome nem sede que ele está sentindo: é necessidade de sentir-se acolhido e protegido como nos velhos tempos, e é através do contato direto com o seio que o bebê tenta estabelecer a conexão que havia antes entre ele e sua mãe. Se a mãe o ignora e o deixa esperando pelo seio enquanto não encontra um "lugar adequado", o bebê sente que a mãe não o quer acolher e proteger.

Por último, vale ressaltar que no leite materno encontramos a endorfina, substância química natural produzida pelo cérebro e que regula a emoção e a percepção da dor, ajudando a relaxar e gerando bem estar e prazer. A endorfina é considerada um analgésico natural, além de auxiliar na redução do estresse e da ansiedade, aliviando as tensões e auxilia até nos casos de depressões leves. 

Ou seja, muitas vezes, quando o bebê quer mamar, é porque está angustiado, estressado, irritado etc. É uma boa idéia amamentar o bebê logo após ele ser vacinado ou durante o teste do pezinho, por exemplo. Além de ajudar a superar a dor e o leite materno também reforça a eficiência da vacina.

"Ah, mas é só levar mamadeira, uééé!"
Só? Sabem o que pode causar o uso de mamadeiras ou chupetas?

Sugar o peito é um excelente exercício para o  desenvolvimento da face da criança, importante para que ela tenha dentes bonitos, desenvolva a fala e tenha uma boa respiração.
As mamadeiras e chupetas costumam modificar a maneira de mamar, pois é muito mais fácil para o bebê sugar a mamadeira que o seio, e com isso ele pode dar preferência à mamadeira não querer mais o peito, o que faz com que o seio vá diminuindo progressivamente a produção até que esta se encerre, pois a produção de leite depende principalmente dos estímulos de sucção do mamilo,  estimulando a glândula pituitária a liberar a ocitocina - assim como a prolactina - em sua corrente sangüínea. Pensar no filho com carinho, ao trocar olhares com ele ou se escutar seu choro também ajuda a produzir ocitocina. Portanto, quanto mais o bebê mamar NO SEIO, mais a mãe produzirá leite, e o contrário também é verdadeiro: quanto menos o beber sugar o seio, menos leite será produzido.

Além disso, mamadeiras, bicos e chupetas podem causar problemas na dentição, na fala e aumentar o risco de infecções:  criança alimentada com mamadeira tem risco de vir a ter diarréia 14 a 25 vezes maior que uma criança amamentada exclusivamente ao peito.

Horários das mamadas:

Muitas pessoas utilizam o argumento de que a mãe deve se programar com os horários de saída de acordo com o horário das mamadas do bebê, mas veja bem: durante 9 meses o bebê teve acesso à alimentação através da placenta durante 24 horas por dia. Não espere que ele vá nascer e se alimentar como um reloginho, com intervalos pré-determinados. o seio deve ser ofertado ao bebê sempre que ele pedir, de 8 a 12 vezes ao dia, sem olhar pro relógio. Fazer com que a criança mame apenas em horas determinadas interfere no aleitamento materno.

Creio eu, agora, que estes argumentos sejam mais que suficientes para o entendimento de todos do porque de a mãe dever atender ao filho com urgência, sem deixá-lo esperando enquanto pede o seu "mamá". O que é mais fácil? Um adulto, de quem se espera maior entendimento e noção, maduro e capaz aceitar que a mulher amamenta na rua porque a maternidade assim o exige, ou que um bebê de poucos dias/meses entenda que a mamãe dele deve ignorá-lo em um momento em que ele realmente necessita dela porque a sociedade não consegue encarar a amamentação em locais públicos como necessidade?
Vamos repensar sobre o conceito de o que é ter "bom senso"...

Abraços,
Ana Paula Vasconcelos (autora do blog Parto com Amor)"


"Segundo a Organização Mundial de Saúde todo bebê deve ser amamentado exclusivamente ao seio até os 6 meses de idade (não necessitando de água ou chás). Mas o aleitamento materno, com complemento após o sexto mês de vida, traz vantagens para a criança até no mínimo os 2 anos de vida."

"Das inúmeras diferenças entre o leite de vaca e o leite materno, a mais importante é o componente exclusivo, que só o leite materno tem, o calor humano. O aconchego, o carinho, o afeto e a segurança decorrentes deste contato íntimo com a mãe, fazem do ato de amamentar um ato sublime de amor. Quando não é dado o seio, resta uma relação muito fria com a mamadeira.. A amamentação está profundamente ligada ao bom desenvolvimento emocional dos bebês.."

Fontes:

Dr. Ricardo de Castro - Aleitamento Materno

Dr. Ricardo de Castro - Amamentação

Amamentação na primeira hora, proteção sem demora

Posso Amamentar - Dicas que podem garantir o sucesso da amamentação

Cyber Diet - Endorfina




quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mamaço Nacional


Esse domingo mães de todo Brasil participarão de uma enorme movimentação em prol da amamentação e em defesa do direito de amamentar em público. No Rio de Janeiro esse evento acontecerá no Parque Lage. Junte-se à nós!

MAMAÇO CARIOCA
Domingo Dia 05/06
das 10:00 horas as 14:00 horas
no Parque Lage (chafariz)

10:15 hs – Abertura

10:20 hs – Laura Uplinger Psicóloga Perintal
Performance de Contato com Diana Cordeiro Performer

11:00 hs – Heloisa Lessa Parteira, Enfermeira Obstrétrica
Teatro de Mesa com Ana Luiza e Miza Carvalho

11:40 hs – Roda de Mães Camila Miranda Pscóloga e Érica Cavour Fonoaudióloga
Coral Orgânico

12:20 hs – Amigas do Peito Ong

13:00 hs – Mamaço nas Escadarias do Parque Lage com apresentação musical de Kantele com Marília Felicíssimo, e Contação de Histórias com Maribel Barreto

13:30 hs –  Sorteios

14:00 hs – Encerramento

Exposição, vendas e demonstração de uso de Wrap Sling e brinquedos.

Haverá um Cantinho Literário, apoiados pelas Editoras IBEP e Record.

Giz de cera e papel, mais esteiras doados pela Mãe Renata Deprá do Espaço Mamíferas, em Santa Teresa.

Tragam cangas, repelentes, protetor solar ou chapéu, e umas frutinhas ou bebidinhas para compartilharmos um lanche coletivo.
Sugerimos também, que as mães tragam fotos pessoais amamentando seus filhos para fazermos um varal de exposição dessas fotos.

Saiba mais no blog Mamaço Carioca.
Se Inscreva no Blog. Sorteio de Blusa de amamentação e muito mais. Confira

Organização: Maribel Barreto
21 9285 7018
http://www.umblogdemae.blospot.com/

terça-feira, 24 de maio de 2011

Porque nascemos assim?

Qual a razão de realidade em que vivemos no âmbito do parto e nascimento?
 
Realmente o que eu acho é que a maioria dos médicos realmente confia na educação e treinamento que receberam. Assim como nós confiamos no contexto cultural em que vivemos e nos médicos que nos atendem, que por sua vez, acabam recebendo as demandas que fazemos e aí vira segredo de tostines. "É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?" Quem vai saber? Diante disso, o círculo vicioso que se forma se reforça tanto, que tomar a iniciativa de olhar pra outro lado se torna muito dificil. Às vezes esse momento de ter a oportunidade de escolher entre tomar a pílula azul e a vermelha não se apresenta! Nem todo mundo tem a sorte de Neo. Nem nós, nem os médicos. Tem gente que vive a vida toda inserido naquela cultura achando que a normalidade é aquela, aprendeu aquilo e acha que aquilo é a verdade absoluta. Tanto que pro Ric esse momento foi um divisor de águas, marcou-o intensamente e por isso ele desviou seu curso.
 
A gente está num estágio onde toda essa cultura, toda essa educação se tornaram muletas. Muletas desnecessárias, mas agora não sabemos mais andar sem elas! Precisamos fazer o caminho inverso. Eu tenho muito orgulho de nós aqui, sabia? Dessas mulheres e profissionais que nadaram contra a maré e fizeram esse caminho inverso contra todas as probabilidades e opiniões da massa. Tenho orgulho de mim por fazer parte desse grupo, de ter me permitido, de ter permanecido até agora. E tenho muito orgulho desses profissionais que morreram em suas práticas para renascerem, proscritos, renegados, em uma nova prática em prol do respeito e dignidade de outrém. Não e fácil para eles. Eles sofrem preconceito dos seus. São excluídos de círculos profissionais por isso. Praticam suas convicções muitas vezes nas sombras, recebendo ajuda de uns poucos que os "encobre", muitas vezes temendo serem descobertos pelas autoridades das instituições onde atuam e serem chamados atenção, como se aquela prática fosse errada, ilegal. Eles vêem as poucas instituições onde podem atuar perderem suas salas de "PPP" para máquinas mais lucrativas e tecnologias mais rentáveis. Eles têm suas carreiras ameaçadas a cada passo que dão, pois qualquer erro deles têm um peso vinte vezes maior do que um erro de um médico que dança conforme a música dessa cultura. É mais fácil sucumbir. Como nós, é mais fácil confiar, delegar a responsabilidade sobre nossos corpos, saúde e partos a um médico. Não temos nada cassado como eles, mas corremos o risco de termos nossa consciência para sempre maculada caso algo de ruim aconteça se formos subversivas e peitarmos a cultura vigente. É mais fácil usar o plano ou o SUS do que ter que pagar, aliás é JUSTO. Quero ter esse direito. Mas não é assim. Se quiser ir contra a maré, eu tenho que bancar. Tenho que absorver o gasto, tenho que adquirir o conhecimento para não ser enganada, tenho que ir contra quem "entende" do assunto e estudou para tal, quem sou eu?
 
Gente, é de pirar a cabeça.
 
Me consola saber que muitas de nós, fomentando essa discussão, agindo, as vezes apenas parindo mesmo, fazemos o papel daquele que oferece a pílula vermelha. Cabe a cada um tomar ou não e trilhar o seu caminho, como cada um aqui fez. E assim vamos "criando a demanda", como eu gosto de dizer. E fazendo o contrário do segredo de tostines, fazendo o caminho inverso.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Semana Mundial pelo Respeito ao Parto e Nascimento

A Semana Mundial pelo Respeito ao Parto e Nascimento ocorre este ano na semana de 15 a 22 de maio. Este movimento acontece em diversos países desde 2004 e começou por iniciativa da Alliance Francophone Pous L'Accouchement Respecté (AFAR). Saiba mais no site da SMAR.




terça-feira, 17 de maio de 2011

Isopor é reciclável!

Gente, descobri recentemente que isopor é reciclável!!! Nossa, eu fiquei tão feliz com essa notícia... eu sempre fiquei com raixa dos estabelecimentos que usavam embalagens de isopor, odiava comprar eletrodomésticos que vinham com um quilo de isopor protegendo. AMEI saber disso. Soube porque meu marido (que também odeia coisas não-ecológicas e sempre engrossou meu coro contra os isopores) me mandou um link com a seguinte reportagem:




Ele está presente em nossas vidas de diversas formas, seja na bandeja de alguns produtos no supermercado, na proteção da TV nova ou até na decoração da festinha de aniversário das crianças. O isopor, nome comercial do poliestireno expandido (EPS), é um material essencial nos dias de hoje e que todo mundo conhece. O que pouca gente sabe é que esse tipo de plástico pode ser 100% reciclado.
Feita a partir de um derivado do petróleo, essa espuma possui de 97% de seu volume constituído de gases. Inodoro, reciclável, não poluente e fisicamente estável, o isopor se popularizou no mundo todo e possui inúmeras serventias.
Mas o que acontece com o material após o uso? Por não saber da possibilidade de reciclagem, muita gente nem cogita separar o isopor junto com os demais recicláveis, como vidro, papel e metal. Uma pesquisa feita pela empresa de embalagens Meiwa, de São Paulo, apontou que apenas 7% dos brasileiros sabem que o isopor é totalmente reciclável.
Como consequência, o material acaba indo parar no lixo comum, e segue para os aterros e lixões de todo o país. Apesar de não possuir substâncias que poluam o meio ambiente, o isopor pode dificultar a decomposição de materiais biodegradáveis e impedir a penetração da água no solo. Por ocupar um grande volume, ele também reduz a vida útil dos aterros.
Reciclagem
A solução, portanto, é a reciclagem, que pode ser feita de três formas. A reciclagem mecânica transforma o isopor em matéria-prima para a fabricação de novos produtos. A energética usa o poliestireno para a recuperação de energia, devido ao seu alto poder calorífico. Já a reciclagem química reutiliza o plástico para a fabricação de óleos e gases.
Ao ser queimado em usinas térmicas para a geração de energia, o poliestireno se transforma em gás carbônico e vapor d’água, o que representa pouco risco à saúde humana e ao meio ambiente.
A reciclagem mecânica é a forma mais comum de reaproveitar o material. O processo acontece geralmente em três etapas:
1 - Na primeira, o isopor é recolhido e separado pela coleta seletiva e encaminhado para as cooperativas de reciclagem.
2 - Já limpo e segregado, o isopor passa por uma máquina que retira o gás presente em seu interior, formando o material em fardos compactos ou tarugos, que seguirão para a recicladora.
3 - Quando chega ao local da reciclagem, os EPS são triturados, derretidos e granulados, voltando a ser uma matéria prima que poderá ser utilizada na fabricação de diversos produtos, como molduras para quadros, objetos decorativos, solado plástico para calçados, rodapés, brinquedos, peças técnicas e até insumo para concreto leve. O isopor reciclado só não pode ser utilizado para embalar alimentos.
Agora que você já sabe que o isopor pode ser reciclado, nada de jogá-lo no lixo comum. Após o uso, lave-o e jogue-o no coletor vermelho, próprio para plásticos."


Então, pessoas que amam o planeta, mãos à obra pra separar o isopor pra reciclagem também!!!!!!

Mamaço em São Paulo

Não podia deixar de divulgar esse fantástico texto da Cláudia Rodrigues no Buena Leche:

"Amamentação e Sexualidade


Entre 50 e 100 nutrizes estiveram presentes numa manifestação batizada como "mamaço" na última quarta-feira numa galeria de exposição do Itaú Cultural, em São Paulo. O evento, um protesto pacífico, ocorreu poucos meses depois de uma mãe ter sido impedida de amamentar ali mesmo. Casualmente ela colocou a queixa numa rede de relacionamentos, por coincidência a rede social vinha retirando fotos de mulheres amamentando em nome da moral e dos bons costumes. Foi o estopim para surgir um evento organizado com apoio do próprio Itaú Cultural. As belas fotos de mulheres amamentando estamparam as capas dos sites de jornais da capital e como era de se esperar, a cobertura ficou no básico sobre o evento; número de presentes, que cada site calculou de um jeito, uma ou outra palavra de manifestantes e só.
Uma pena que nenhum repórter de plantão se perguntou: mas como é mesmo esse negócio de preconceito contra os peitos das mulheres que amamentam? Eu tenho isso? O colega ao lado tem? De onde nasceu isso? Nham nham, teria aqui na redação umas boas fontes para responderem essas questões?
Não deu tempo nem para pensar, zarparam os repórteres para cobrir o óbvio. Os colunistas saíram correndo atrás comendo poeira da notícia mal coberta. Alguns, politicamente corretos, defendem o movimento, embora insistam em separar peito com leite de sexualidade.Outros literalmente talharam o leite das colunas, como João Pereira Coutinho, da Folha de São Paulo, ao comparar direito de amamentar com direito de se masturbar, tomar banho ou fazer sexo em público. Coitado do rapaz, ficou assustado com as belas madonas, entrou fundo no buraco do que não teve e eureka: peito e sexo, algo a ver! Mas o quê exatamente? Fez uma salada russa do seu quase insight.
As militantes enraiveceram-se, a coluna do moço nunca foi tão visitada na vida, mas algumas delas, inconformadas com as comparações bizarras na coluna do João, enfiaram os pés pelos peitos e insistiram na premissa de que peito amamentando não tem nada a ver com sexualidade.  Uma pena, enquanto não enfiamos o dedo na ferida, ela não cura e a militância deveria saber que peito amamentando não perde sua função sexualizada, que o olhar dos homens para um par de peitos femininos, com ou sem bebê mamando, é um olhar sexualizado e pode ser confuso, mas tão confuso para um homem -- embora não seja para todos – ver um peito feminino exposto, sendo sugado, que ele desate a pensar, sentir, falar ou escrever besteirol infantilizado, mesmo quando tem uma boa formação, uma boa educação, como parece ser o caso do jovem colunista. Peitos de mulher sempre tirarão homens do sério levando-os para sonhos oníricos de tempos inconscientes. Mais do que isso, e quando entramos nas sombras, um par de peitos amamentando pode causar problemas na vida de muitos casais, impedindo o breve retorno da vida sexual ou literalmente levando o sujeito a permanecer sexualmente descomprometido com a -santa- mãe dos seus filhos. Aconteceu com Elvis Presley, por exemplo, e acontece todos os dias, tudo porque peito é sexualidade, peito mexe com a sexualidade de homens e mulheres e peito é, para a sorte desses bebês que mamam, a primeira grande lição de sexualidade feliz, plenamente satisfatória. 
A militância pode e deve promover mamaços, mas que seja de cabeça feita, sem falsos moralismos de que esse nobre gesto é assexuado como uma pintura bem comportada. Amamentar tem cheiro, cor, prazer de ambos os lados, muita satisfação em esvaziar e ser esvaziada, parece muito com um ato sexual sim, é sexualidade primária, fundamental, de base e quem não viveu ou não processou esse grounding da sexualidade humana de algum jeito, sofre, se confunde, não consegue ver, ouvir ou conviver com a amamentação de forma espontânea. Nas mulheres um dos sintomas, triste sintoma, é não conseguir amamentar.
Muitas fobias e transtornos relacionados à amamentação, ao desmame
e até mesmo um eventual prolongamento da licença-maternidade, que no Brasil é escandalosamente curta justamente porque não leva em conta as necessidades de aleitamento do bebê, podem ser resolvidos com um melhor entendimento da sexualidade via amamentação. O conhecimento sobre o gesto ancestral que possibilitou a sobrevivência da espécie humana não se encerra no fisiológico. Somos seres culturais, padecemos e temos prazeres intensos via cultura e nosso caldo psíquico, ainda que rico e esclarecedor, continua sentado no cantinho do castigo moral. É preciso alongar o olhar sobre os bastidores internos do tema, afinal entre a visão equivocada de que amamentar é apenas candura assexuada e o nojinho sarcástico de quem não desfrutou das bases da sexualidade humana, tem chão a ser percorrido.
O rapaz que escreveu a coluna na Folha não mamou prazerosamente por meses a fio na própria mãe, posso afirmar isso sem conhecê-lo, sem que ele tenha mencionado e me arrisco a afirmar porque um homem que mamou prolongadamente em sua mãe não fica tão confuso diante da sexualidade emanada da amamentação. O homem que um dia mamou prolongadamente em sua mãe conhece bem o corpo de uma mulher, sabe que aquele mesmo par de peitos tem múltiplas funções e vê com naturalidade a função básica, a mais fisiológica dos seios femininos, sem que isso o cinda, sem separar o peito que amamenta do peito que dá prazer sexual. Sem nóias, sem perversões."