Ontem no banho (adoro pensar no banho) fui arrebatada por uma torrente de lembranças da minha infância.
Comecei lembrando de quando fazia inglês e meu avô vinha toda terça e quinta com sua brazília me pegar para me levar para casa. Ele não tinha essa obrigação, eu nunca pedi que ele o fizesse. Mas toda terça e quinta ele estava lá na esquina me esperando e sempre me levava um chocolate. Quase sempre era um Lancy, mas de vez em quando um Chokito ou um Milk Bar. Era muito gostoso e eu sempre dava um beijão nele e pedia que mandasse um beijão para a vovó. Sorri lembrando disso, um sorriso muito bom.
Depois pensei nas lembranças que tinha de quase toda minha família. Lembrei da minha mãe brincando de menininho comigo, fazendo seu dedo indicador e médio virarem perninhas que saíam andando pelo meu corpinho de criança e fazendo uma vozinha fofa. O "menininho" me colocava pra dormir, me dizia que a comida tava boa e me pedia pra comer, me contava histórias e me fazia cócegas, eu amava. Até hoje peço a minha mãe pra fazer o "menininho" e viro criança de novo. Então veio uma enxurrada de memórias da minha mãe: ela desenhando um canguru a meu pedido e eu nem sei como ela fez isso, ela me pareceu uma artista nesse dia; ela me ensinando a andar pulando que nem moleca; ela me mostrando como era a dança das mãos do balé; ela cantando "dorme, anjo" pra mim. Nossa, enchi meus olhos d'água e sorri mais.
Então, lembrei do meu pai, que é um cara normalmente muito sério, mas quando penso nele, me lembro de brincar de pique-esconde com uma metralhadora d'água, eu, ele e meu irmão. Ele chegou em casa um dia com 3 trecos desse e propôs a brincadeira. Passamos a tarde toda rindo e molhando a casa inteira, foi uma delícia. Minhas lembranças dele são assim: ele atravessando a rua movimentada comigo e de repente abaixando num sopetão e gritando "olha o avião!" Só eu que já o conhecia, continuava andando, mas quase que todo mundo a nossa volta prontamente se abaixava, era hilário; ele escalando os portais da casa e se escondendo no vão do hall pra dar susto na gente quando a gente passasse; ele ensinando a gente a escalar portais...
Lembrei da minha madrinha, que desde adolescente sempre me reservava um dia para sair comigo, passear, fazer unha, cortar o cabelo, fofocar. Lembrei de antes disso, quando ela escrevia na minha agenda coisas como o dia em que eu fiquei menstruada pela primeira vez ou meu nome e mais uns tracinhos com apenas uma letra evidente, ocultando o nome do garoto de quem eu gostava, com um enorme coração em volta.
Lembrei de meu irmão pirralho me espremendo no carro enquanto eu reclamava irritada e minha mãe explicava que ele queria ficar perto de mim, ou dele com uma havaiana que devia ter menos de 6cm de tamanho, correndo em círculos atrás de uma barata pra me defender. Lembrei da sensação que eu tinha quando assoprava com força a "melancia" da barriga da minha irmã e ela ria achando a coisa mais divertida do mundo enquanto eu só inflava mais e mais de amor por ela. Me lembro de como era bom poder fazer a mamadeira dela, pois me sentia cuidando dela. Ela foi o bebê que eu mais amei até hoje. Penso se vou amar o Andrej ainda mais e acho que se eu conseguir, meu coração vai explodir.
Lembrei da minha avó vindo passar o dia conosco na casa que moramos em Quintino e de como eu esperava ela na grade até ela chegar ansiosamente. Lembrei da gente pintando ursinhos carinhosos em isopor e cortando com um fio quente que derretia o isopor, aquilo era muito legal!
Lembrei da minha outra vó me ensinando receitas, escrevendo pra mim com todos os detalhes como se faz isso ou aquilo, lembro de namorar seu livro de receitas, do seu bobó, da sua rosca doce.
Lembro da Martha Rocha, da Barbarella, do Xereta, do boné de jacaré, da Galinha Magricela...
Não tenho mais nada pra falar, só estou prevendo as lembranças que meu filho terá num futuro distante, de mim, do pai, dos avós, dos tios... Meu coração pula!
Ele também.
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