Pesquisar este blog

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Carta ao amigo distante

"Amigo,

Tem épocas, como agora, que me dá a louca e eu saio à caça de coisa nova pra ouvir. Ouvido cansa de vez em quando. Agora, com o baby, eu estou à procura da trilha sonora de parto perfeita. Tá sendo um mega desafio. Queria músicas que proporcionassem uma viagem interior, quase que espiritual. Acho que to me preparando pra um rito de passagem DAQUELES. Acho que já te falei, mas vou ter o bebê em casa, da forma mais natural possível.

Bem, e quanto à estados alterados de consciência, você se assustaria como a maternidade pode ser alucinógena. Eu nunca curti muito beber e não tomo um drinquinho sequer desde resolvi engravidar.  Mas é uma viagem doida por si só poder perceber as mudanças que estão acontecendo na minha vida, no meu corpo, na minha familia, no meu marido. Sinto como se tivesse óculos com visão extra-cotidiano permanentes. Minha parteira (que na verdade é enfermeira obstétrica) tem uma proposta que se encaixa bem com o que eu to vivendo. Segundo ela, nem todas as mulheres se permitem viver o parto como ele é, ficam presas no mundo racional, ao medo incutido nelas pela cultura insalubre de parto que a gente tem, onde dar à luz é atribuição médica e nao delas (das mulheres). Aquelas que embarcam na viagem de parir vão para o que elas chamam de "partolândia", um estado alterado de consciência em que claramente a mulher se despe desses conceitos "civilizados" da sociedade e literalmente vira bicho, vive sua plena capacidade de ser mulher, gestar, criar, gerar, parir, defender a si e sua cria. É bem bonito. E eu a procurei por isso, porque queria parir sozinha, queria eu mesma fazer meu parto, queria estar no meu ambiente, no meu ninho e fazer o que eu tivesse vontade.

Se você olhar com os olhos certos, tudo é uma viagem.

Bem, no mais, eu não sei se já te contei, mas o bebê se chama Andrej, é um menino! Ele já tá me dando uma barriguinha bem de grávida mesmo, as pessoas já se referem à mim na rua como grávida (dão lugar, ajudam), é muito engraçado. De vez em quando me vem uma vontade de olhar sério e dizer "obrigado, senhor, mas eu não estou grávida", só pra ver a cara de pamonha das pessoas. Acho tb que eu já estou começando a parecer um pinguim quando ando. O Andrej já mexe, mas só eu sinto, não dá pra sentir por fora, tenho peninha do pai que tá doido pra sentir também. Toda noite ele fica cochichando com a minha barriga esperando alguma coisa, acho que mais dia menos dia ele vai sentir. E vai ser tão bom poder compartilhar isso com ele. Por enquanto, quando mexe, eu sinto que é uma coisa só entre nós dois (eu e Andrej) e ao mesmo tempo que sinto que é um privilégio, tb sinto solidão. Uma coisa acontecendo só dentro de mim. Eu fico viajando nele nadando lá dentro da minha barriga, fico tentando descobrir em que posição ele tá. Converso muito com ele, o dia todo fico narrando meu dia pra ele, zoando as pessoas em segredo pra divertir ele. Na verdade acho que só quem ri sou eu quando vejo como sou boba, mas na minha cabeça sinto ele pensando que a mãe dele é engraçada e acho que ele deve estar feliz. Aí eu fico feliz também.

Bem, isso é só um pouco do que eu tenho vivido, deu pra sentir que tá sendo realmente uma viagem, acho que a melhor de todas.

E pode escrever qualto quiser, viu, afinal, mesmo sem cerveja, olha o quanto eu escrevi!

Ana"



Escrever cartas às vezes é catártico. Devia fazer isso mais vezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Que bom que você quer deixar registrada sua visita! Pode falar!