Por Ana Paula Vasconcelos:
"A manifestação pública entilulada Mamaço, que ocorreu na Quinta-feira 12 de Maio, despertou a discussão de um tema que ainda é considerado tabu na nossa sociedade: a amamentação em locais públicos.O protesto, que reuniu cerca de 50 mulheres no Espaço Itaú Cultural, foi uma ação para defender a amamentação em locais públicos após a antropóloga Marina Barão ter sido impedida de amamentar no local.
Antes e após a manifestação, diversas opiniões, críticas e chacotas foram feitas em contraposição à atitude destas mães. A exemplo o CQC 3.0, onde o Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Luque ridicularizaram o evento quando uma inocente e desavisada enviou-lhes um e-mail pedindo que divulgassem a ação (veja o vídeo). Uma mulher revoltada pela atitude machista de alguns, apesar de não ser mãe , publicou um post em seu Blog Escreva Lola Escreva que, talvez até por ser de certa forma radical e generalizar os homens (pois houve mais crítica aos homens em geral que defesa da mulher), também gerou muita polêmica, já tendo desde a sua publicação (ontem, dia 01 de Junho) até o momento, colecionado mais de 430 comentários.

Já no texto "Mamonas Celestinas" de João Pereira Coutinho, colunista da Folha, o autor utilizou de sarcasmo e ironia para defender a idéia de que o argumento de que a amamentação é algo natural e fisiológico não é suficiente para defendê-la em locais públicos, e muitos compactuam desta idéia. Devo dizer, inclusive, que concordo que este não é argumento suficiente, se não deveria ser natural muitas outras coisas também, mas não vamos entrar neste mérito.

Acontece que uns se ofenderam com a atitude das mães e saíram falando muita coisa, e as mães e mulheres em geral se ofenderam com o que foi dito, virou um bafafá, bate boca, onde os argumentos se limitaram à "naturalidade do ato" por parte das mães e ao "constrangimento" por parte dos demais. Sinceramente, ainda não entendi o porquê de tanto constrangimento.. É porque é peito? ou por quenão conseguem controlar a atração? Ou mais, talvez seja por se sentir envergonhado ao ver um inocente bebê sugando voluptuosamente parte do corpo feminino que os homens adoram?
O objetivo do post de hoje é justamente colocar os reais motivos de mães necessitarem amamentar seus filhos a hora que for, no local onde estiverem, e argumentar de forma mais concisa.
Bom, em primeiro lugar, vamos abordar o fator psicossocial:
A amamentação no seio materno, em livre demanda (ou seja, a hora que o bebê pedir), auxilia no desenvolvimento social e psicomotor da criança: As pesquisas mostram que os bebês amamentados ao seio são mais inteligentes, tem melhor aprendizado no futuro. o contato físico entre o bebê e a mãe facilita o relacionamento futuro desta criança com as outras pessoas e faz com que se tornem adultos mais confiantes, influenciando decisivamente em sua futura maneira de ser, de viver e de se relacionar com outras pessoas, pois assegura interação freqüente e expõe o bebê à linguagem, ao comportamento social positivo e a estímulos importantes e, finalmente, desenvolve maior agudeza e enfoque visual levando à melhor disposição à aprendizagem e à leitura.
Além disso, o bebê passou 9 meses dentro da barriga da mãe, acolhido e protegido, escutando 24h por dia o bater do coração da mãe, em um local escurinho e quentinho. Quando nasce, tudo isso lhe é tirado de uma vez, o que gera medo e insegurança no bebê. Certas vezes, quando o bebê pede o seio da mãe, não é fome nem sede que ele está sentindo: é necessidade de sentir-se acolhido e protegido como nos velhos tempos, e é através do contato direto com o seio que o bebê tenta estabelecer a conexão que havia antes entre ele e sua mãe. Se a mãe o ignora e o deixa esperando pelo seio enquanto não encontra um "lugar adequado", o bebê sente que a mãe não o quer acolher e proteger.
Por último, vale ressaltar que no leite materno encontramos a endorfina, substância química natural produzida pelo cérebro e que regula a emoção e a percepção da dor, ajudando a relaxar e gerando bem estar e prazer. A endorfina é considerada um analgésico natural, além de auxiliar na redução do estresse e da ansiedade, aliviando as tensões e auxilia até nos casos de depressões leves.
Ou seja, muitas vezes, quando o bebê quer mamar, é porque está angustiado, estressado, irritado etc. É uma boa idéia amamentar o bebê logo após ele ser vacinado ou durante o teste do pezinho, por exemplo. Além de ajudar a superar a dor e o leite materno também reforça a eficiência da vacina.
"Ah, mas é só levar mamadeira, uééé!"
Só? Sabem o que pode causar o uso de mamadeiras ou chupetas?
Sugar o peito é um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, importante para que ela tenha dentes bonitos, desenvolva a fala e tenha uma boa respiração.
As mamadeiras e chupetas costumam modificar a maneira de mamar, pois é muito mais fácil para o bebê sugar a mamadeira que o seio, e com isso ele pode dar preferência à mamadeira não querer mais o peito, o que faz com que o seio vá diminuindo progressivamente a produção até que esta se encerre, pois a produção de leite depende principalmente dos estímulos de sucção do mamilo, estimulando a glândula pituitária a liberar a ocitocina - assim como a prolactina - em sua corrente sangüínea. Pensar no filho com carinho, ao trocar olhares com ele ou se escutar seu choro também ajuda a produzir ocitocina. Portanto, quanto mais o bebê mamar NO SEIO, mais a mãe produzirá leite, e o contrário também é verdadeiro: quanto menos o beber sugar o seio, menos leite será produzido.
Além disso, mamadeiras, bicos e chupetas podem causar problemas na dentição, na fala e aumentar o risco de infecções: criança alimentada com mamadeira tem risco de vir a ter diarréia 14 a 25 vezes maior que uma criança amamentada exclusivamente ao peito.
Horários das mamadas:
Muitas pessoas utilizam o argumento de que a mãe deve se programar com os horários de saída de acordo com o horário das mamadas do bebê, mas veja bem: durante 9 meses o bebê teve acesso à alimentação através da placenta durante 24 horas por dia. Não espere que ele vá nascer e se alimentar como um reloginho, com intervalos pré-determinados. o seio deve ser ofertado ao bebê sempre que ele pedir, de 8 a 12 vezes ao dia, sem olhar pro relógio. Fazer com que a criança mame apenas em horas determinadas interfere no aleitamento materno.
Creio eu, agora, que estes argumentos sejam mais que suficientes para o entendimento de todos do porque de a mãe dever atender ao filho com urgência, sem deixá-lo esperando enquanto pede o seu "mamá". O que é mais fácil? Um adulto, de quem se espera maior entendimento e noção, maduro e capaz aceitar que a mulher amamenta na rua porque a maternidade assim o exige, ou que um bebê de poucos dias/meses entenda que a mamãe dele deve ignorá-lo em um momento em que ele realmente necessita dela porque a sociedade não consegue encarar a amamentação em locais públicos como necessidade?
Vamos repensar sobre o conceito de o que é ter "bom senso"...
"Segundo a Organização Mundial de Saúde todo bebê deve ser amamentado exclusivamente ao seio até os 6 meses de idade (não necessitando de água ou chás). Mas o aleitamento materno, com complemento após o sexto mês de vida, traz vantagens para a criança até no mínimo os 2 anos de vida."
"Das inúmeras diferenças entre o leite de vaca e o leite materno, a mais importante é o componente exclusivo, que só o leite materno tem, o calor humano. O aconchego, o carinho, o afeto e a segurança decorrentes deste contato íntimo com a mãe, fazem do ato de amamentar um ato sublime de amor. Quando não é dado o seio, resta uma relação muito fria com a mamadeira.. A amamentação está profundamente ligada ao bom desenvolvimento emocional dos bebês.."
Fontes:
Dr. Ricardo de Castro - Aleitamento Materno
Dr. Ricardo de Castro - Amamentação
Amamentação na primeira hora, proteção sem demora
Posso Amamentar - Dicas que podem garantir o sucesso da amamentação
Cyber Diet - Endorfina