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quarta-feira, 9 de março de 2011

Caminhando Pelas Terras Do Parto

O relato a seguir é de Goddess Leonie Allan, mãe escritora e artista australiana, autora do blog The Goddess Guidebook e fundadora do Goddess Circle.

Caminhando Pelas Terras do Parto: Como Nossa Filha Veio Ao Mundo
A hora havia chegado.
Eu ajoelhava sob uma cama de hospital.
Só havia os puxos.
Sentia-me sublime. Forte. Poderosa.
Após um trabalho que me tirou de mim mesma, onde tudo o que podia fazer era respirar e continuar assistindo a eternidade por trás de meus olhos... e isto. De repente, era simples. Era poderoso. O puxo. Não havia dor, só o puxo.
Aos olhos de todos os outros, eu era um sentinela sentado. Por todas as dez horas que precederam aquele momento eu não havia me movido, não havia falado, não havia sequer aberto meus olhos para ver ou boca para falar. Eu estava meditando. Eu estava parindo calmamente. Eu era o Buda Parindo.
Em meu interior, entretanto, outra história estava sendo contada.
Eu estava caminhando pelas Terras do Parto. Eu era uma xamã. Guerreira. Eu adentrei profundamente as minhas cavernas e lutei contra os Ursos da Tribo do Medo. Eu venci. Minha luta foi vitoriosa. Eu a encontrei. Eu estava retornando para casa. Eu estava trazendo minha filha de volta comigo.
Entardecia. A luz era amena. Havia somente reflexos dourados de luz.
Eu sentia cabeça, ombros, costas, cotovelos, pernas, abrindo caminho por entre meus quadris.
Pela primeira vez desde que me aventurei pela Terra do Parto, eu comecei a emitir som. Um longo, profundo hino, uma canção conhecida apenas pelas baleias nos profundos oceanos e pela luz da lua. Minha canção do parto.
Pessoas me rodeavam na Sala Sete. Uma doutora me observava do canto. Nossa parteira. Outra parteira cujos cabelos selvagens cor de âmbar e olhos me lembravam Hera. Meu amor ao meu lado. Nossa doula. Minha mentora espiritual.
Por todo o mundo, pessoas rezavam. Havia homens da medicina em montanhas. Xamãs queimavam sálvia. Uma tribo de mulheres e círculos de deusas aguardavam notícias. Ancestrais e anciãs do mundo do arco-íris estendiam suas mãos, amor tocando amor, oferecendo um novo espírito ao mundo.
Aquela que vem vindo? Ah, como já é amada. Nós somos protegidos. É uma certeza.
Este momento é tudo o que existe. O momento do puxo.
Pelo hospital, é uma Noite de Nascimento. Cada quarto da estalagem está ocupado, cada manjedoura recebendo seu Jesus, cada mulher se tornando a Santa Maria.
Uma mulher está parindo no quarto ao lado do meu. Nós cantamos nossa música de parto juntas.
Eu canto para ela:
“Você é forte. Você vai conseguir! Você pode! Eu estou aqui. Nós vamos fazer isso. Sim!”
Eu ouço sua música de força, suas próprias palavras sussurradas de volta a mim.
Nos encontramos às margens da Terra do Parto, nossos filhos nos braços. Diante de nós, um longo declive escorregadio de volta à Terra dos Outros, o Mundo Real.
Nos entreolhamos. Nossas sobrancelhas franzidas, úmidas de suor. Carregamos manchas de sangue de nossa iniciação. Nossos cabelos desgrenhados e com razão.
Mas nossos olhos... Ah, nossos olhos! Estão mais bonitos do que jamais estiveram. Intensos. Cheios de luz e coragem e bravura além do que se pode conhecer. Nós reivindicamos os tesouros de nossos corações: nossos filhos. Ah, e como lutamos por eles! Com todo o amor em nossos corações e céu que existe em nós. E vencemos!
Nos voltamos ao declive à nossa frente. Rimos uma para a outra e, com nosso grito de guerra de mães... mergulhamos!
Este é o momento em que ela chega. Em uma respiração, uma onda de energia quebrando sobre mim, ela escorrega do meu mundo interior, para o mundo fora de mim.
Ela está aqui!
Ela escorrega para as mãos do meu amor.
Ele a entrega a mim.
Seus olhos arregalados e azuis. Ela deixa escapar um choro.
Ela é quieta, forte, maravilhosa.
Meu próprio Jesus.
Ela está aqui.
Este foi o momento. O momento em que minha filha foi dada pelas estrelas ao mundo, e então aos meus braços. O momento em que eu retornei ao mundo, para nunca mais ser a mesma.
Todos os momentos depois deste. Os difíceis. Os que se manchavam de lágrimas. Os exaustivos. Os exultantes. Os de amor pulsante. Os de coração satisfeito. Os de brilhantes e ofuscantes mudanças. Ampliaram-me os horizontes. Abriram-me. Fizeram-me menor. Fizeram-me maior.


3 comentários:

  1. Ahhhh Li! Lindo relato esse, né? Muito emocionante. Sabe, uma das coisas que eu mais sinto falta hoje em dia, é desse olhar mais mágico sobre a vida. Sei que isso independe de religião mas era mais automático, principalmente com vocês. Até o próximo. Bjs

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  2. Nossa Ana, que relato mágico, lindo, forte...ai ai rs!
    Um bjo grande, estou adorando seu blog!!

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  3. Amei seu blog...Estou seguindo e linkei ele no meu...se me permite partilhei nele tb...Bençãos.

    se puder me visite: www.doulanatural.blogspot.com

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